domingo, 24 de janeiro de 2010

Conto 4 - Parte Final

Aprendi muitas coisas que não esperava olhando o coração de Raul, antes de conhecê-lo comecei a entrar em depressão de tanto ver a reação das pessoas quando estavam próximas da morte ou quando me encontravam efetivamente, era sempre um problema, elas ficavam desesperadas, eu passava mais tempo fazendo com que elas se acalmassem e entendessem que haviam morridos do que as conduzindo, além daquelas pessoas que começavam a fugir e eu demorava um bom tempo para encontrar suas almas que haviam se perdido para poder conduzi-las, sem contar aqueles casos piores das pessoas que não aceitavam a minha chegada e continuavam a viver a sua “vida” normalmente assombrando aqueles que estavam realmente vivos, tudo isso sempre foi um transtorno para minha pessoa.

Com o passar dos anos eu fui me tornando um pessoa cada vez mais triste, ainda mais depois de ver todas as imagens que criam para me representar, sempre vestido de preto, alguns em formato de caveira, alguns com foices na mão, tudo para dar mais medo nas pessoas da minha pessoa, algo que eu não esperava que acontecesse, a minha chegada não era algo triste, e a minha imagem não era tão amedrontadora. Acabei entrando em “depressão”, ou algo parecido ao que os humanos sentem, eu comecei a questionar o que eu fazia, se era realmente bom tirar a vida das pessoas e enquanto eu pensava parei de “trabalhar”, com o tempo percebi que algumas pessoas estavam felizes com a situação, mesmo aqueles que estavam sofrendo muito com dores e outras coisas não queriam a minha presença no fundo de seus corações, eu escutava as palavras: Quero morrer, e sentia no coração as palavras: Quero viver, contradições que não conseguia entender, foi quando me resolvi que não mais levaria ninguém, mas minha tristeza não passou e muito pelo contrario, com o passar do tempo ela só aumentava.

Até esse dia, até o meu encontro com Raul, conversando eu penetrei sua alma, queria saber até onde ele realmente desejava morrer, percebi que em sua jornada ele procurava a morte mais não a desejava a realmente, mas com o passar dos anos, com a velhice se aproximando eu senti que suas angustias diminuíam, com a maturidade ele se tornava cada vez mais consciente de sua vida e mesmo que por alguns momentos ele percebesse que havia desperdiçado muito tempo me procurando ele sabia que tinha aproveitado sua vida do jeito que lhe agradava, ele nunca deixou de fazer aquilo que desejava, e com sua maturidade ele entendia que na vida existia um momento em que deveríamos entregar nossa vida à morte.

Como num passe do Destino nossas existências se encontraram, ele me achou e eu o achei, como se mutuamente o Destino houvesse nos colocado cara a cara para termos aquela simples conversa, que não só mexeu comigo como resolveu todo o problema que a vida dele havia consistido, ele encontrou a morte e eu a paz.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Conto 4 - Parte 4

Estava eu olhando o lago ao lado de um banco onde estava sentado um homem jovem, como uma media de vinte anos de idade, parecia um pouco triste e eu resolvi conversar com ele para ver o que estava pensando, talvez pudesse ajudá-lo com tudo o que eu já havia vivido, talvez tivesse aprendido algo que pudesse ajudar um jovem.

Aproximei-me mais um pouco dele e lhe disse:

- Bom dia, meu nome é Raul e o seu.

Olhou-me com um peso, que pude sentir a profundidade em minha alma como se lá estivesse me dizendo seu nome mais sua resposta foi estranha, ele disse:

- Já me chamaram de tantos nomes que não saberia dizer se tenho um.

Achei aquilo um pouco estranho, mas continuei dizendo:

- O que faz aqui no parque?

- Aqui é um lugar tranqüilo neste mundo tão agitado, que resolvi ficar aqui por algum tempo para poder pensar no mundo e na vida, o mundo é muito confuso e complicado e as pessoas muito estranhas. – Ele me respondeu.

Olhei ele por algum tempo imaginando como uma pessoa com aquela idade aparente poderia estar pensando uma coisa dessas, como ele poderia ter essas idéias para com seu nome além da sua visão de sociedade, era incrível. Então sorri e perguntei:

- Por que está com todos esses lamentos, olhe como o mundo é, olhe o que ele foi, temos tantas mudanças no mundo que não podemos nem mesmo acompanhá-las, mas não podemos ficar apenas pensando nas coisas ruins.

Ele me olhou e respondeu:

- É engraçado o que me diz, pois eu penso realmente em muitas coisas ruins, só que o problema é que todas elas me afetam, deixei de trabalhar, se é que posso chamar de trabalho exatamente por pensar nas coisas ruins, eu vivi a minha vida inteira fazendo o que faço com alegria, só que comecei a ver o que as pessoas pensavam sobre meu trabalho era algo estranho, todos me temiam, muitos me odiavam, pior que aqueles que diziam gostar de minha profissão eram pessoas que tinham problemas e quando se deparavam comigo ficavam mais em desespero do que aqueles que me temiam, com o passar do tempo acabei entrando no que deveria ser uma depressão.

Fiquei com um determinado receio em perguntar para ele o que ele fazia, tudo bem que depois de tudo o que eu passei sabia que a morte não seria um problema, ou a não morte poderia ser o maior problema ele poderia ser um maníaco e eu poderia passar a eternidade em dor com aquele maluco, até mesmo por que meus pais ainda estavam vivo. Sem demonstrar meu receio perguntei:

- Mais você nunca pensou em mudar de profissão?

- Mudar de profissão não é algo que eu possa escolher, eu estou em alguns pontos de meu ser que não tenho muitas escolhas aquilo que faço me foi dado como uma dádiva, como se eu existisse para fazer o que faço, ou melhor, o que eu faço faz parte de tudo aquilo que eu sou e eu não posso evitar. – Ele me respondeu.

Achei que seria melhor não começar mais lhe perguntar muitas coisas quando ele olhou para mim e perguntou:

- E você o que faz na vida?

- Eu já fiz muitas coisas mais o meu foco era ser um medico e que acabei me tornando um cientista e depois um pesquisador. – Eu lhe respondi.

Ele me olhou dobrou sua cabeça para o lado levemente e me perguntou:

- Mas o que tanto pesquisou?

- Eu não sei se você sabe que no mundo existia a morte, há algum tempo a trás, mais por algum motivo que nunca consegui entender isto parou de acontecer com todos os seres vivos existentes no planeta, ninguém mais morrer, eu em desespero passei a viajar um mundo tentando encontrá-la fosse da maneira que fosse, até que eu desisti.

Quando ele me olhou com um olhar de espanto que eu nunca havia visto antes e me perguntou:

- Mais por que você estava procurando a morte, por mais que o mundo estivesse ainda em desgraças ninguém deseja a morte.

- Muito pelo contrario, de tudo o que eu vivi tudo o que eu sempre desejei foi encontrar a morte, meus pais ainda estão vivos em sofrimento eterno por que a morte nunca chegou a eles e eu agora já passei do que deveria e sofro por não poder viver, pois por mais que eu estivesse vivo eu não posso curtir a minha vida então eu não estou vivendo. Eu lhe respondi.

Ao olhar para sua face eu vi a feição da felicidade e da realização e foi quando vi a minha vida terminando.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Conto 4 - Parte 3

Já estava com quase setenta anos e não lembrava mais a idade de meus pais, mais sabia que já tinha passado dos cem há algum tempo e ainda continuavam em coma induzido, eu não tinha filhos e a preocupação começava a me dominar, eu daqui a algum tempo poderia estar na mesma situação que eles e eu não queria isso para mim, assim como queria que acabasse para eles.

Resolvi que estava mais do que na hora de partir e procurar em algum lugar uma solução para aquele problema, não sabia muito onde, nem muito menos como, mais sabia que tinha que procurar.

Resolvi viajar pelo mundo procurando entender o que poderia acontecer, visitei todos os cientistas conhecido, fui arrumando cada vez mais contatos e indo cada vez mais a laboratórios, em alguns casos deixei que meu corpo fosse usado com experiência para tentarmos conseguir alguma explicação para toda aquela situação, eu não compreendia e comecei a perceber que no mundo inteiro ninguém estava entendendo. As explicações cientificas não estavam mais sendo o suficiente, fui de ponta a ponta no planeta terra e não consegui encontrar nenhuma explicação cientifica, percebi que estava na hora de mudar tudo o que estava pensando quando me encontrava no estado da Bahia na America do Sul, percebi que talvez fosse o momento de ir para o âmbito religioso.

Religião e ciência estavam igualadas nestas situações, não resolveu nada, não só na America do Sul, por que não foi só ali que eu procurei, voltei por todos os cantos do mundo que eu já havia passado só que agora não procurando pela ciência e sim pelas religiões, passei por diversos rituais nos quais muitos foram bizarros e sofridos, me causaram apenas dor, mais nenhum deles conseguiu deixar a minha vida e poder descansar em paz, o mundo inteiro estava em um colapso, ninguém morria em lugar nenhum do mundo, de nenhum modo, ou melhor, o único modo de acabar com a vida foi um no qual eu vi em uma das regiões na qual eu estava visitando, mas não era para mim, e para mais ninguém que viu a pessoas que conseguiu morrer, ela foi colocada em um triturador de carne, mas enquanto sua carne era triturada sua voz em desespero foi escutada a cada segundo.

Estava desistindo de tudo não tinha mais soluções então voltei para minha casa, eu estava com quase cento e vinte anos de idade e ainda vivo e pior do que tudo tinha passado por uma infância desesperadora com um pai doente, uma fase adulta procurando por soluções para encontrar a morte e a velhice seria o momento de descansar, se soubesse que não haveria solução eu não teria gasto minha vida a procura da morte, a única coisa boa de não ter encontrado forma alguma de achá-la eu poderia passar mais algum tempo vivendo, tudo bem que havia perdido minha força vital, estava agora andando em uma cadeira de rodas elétrica e mal podia fazer muitas coisas, mas tinha que ver tudo o que não havia visto no mundo.

Foi quando depois de tanto procurar sentado em um banco do Central Park que encontrei a solução de todos os meus problemas.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Conto 4 - Parte 2

Meu nome é Raul, sou medico do hospital central. Tornei-me medico por causa do caso do meu próprio pai, que era extraordinário, tudo o que acontecia com seu corpo ele não morria, minha mãe sempre esteve a seu lado, mas por mais que o tempo fosse um fator forte na mudança física deles eles continuavam vivos, por mais que ele passasse por diversos problemas de saúde, que não era o caso de minha mãe, mais era o caso de meu pai ele não morria, o sofrimento era muito grande, até que chegou ao ponto de meu pai pedir para que eu lhe colocasse em estado de coma, naquela época eu não sabia o que fazer, mais após estudar eu sabia muitas coisas, até mesmo como ajudá-lo, quando fui trabalhar no hospital acabei me tornando um especialista em casos bizarros, enquanto em casa usava o corpo de meu pai como experiência para ver até onde o corpo agüentava ficar vivo, ele já estava todo destruído por conta do acidente que havia sofrido e depois por causa do câncer que depois de retirado e de meu pai perder parte de seu intestino e não morrer se espalhou por partes de seu corpo e por mais que retirássemos ele continuava a viver, cheguei até mesmo a fazer um teste em seu corpo no qual eu retirei de seu peito o coração enquanto eu fazia uma analise de seu sistema cerebral, averiguando se existia ainda algum tipo de atividade, tirando pelo fato de começar a ter problemas com o bombeamento de sangue e algumas disfunções já existentes pela falta de alguns trabalhos normais do corpo como o do intestino ele permanecia com atividade cerebral, aquilo era muito estranho.

Não só como filho mais como cientista eu tinha que descobrir o que está acontecendo e não só com o caso de meu pai como o caso do mundo, eu estava trabalhando no hospital durante uma madrugada quando chegou um caso que tinha muitos problemas, um ônibus havia explodido e por conseqüência da explosão algumas pessoas que sobraram vivas estavam todas queimadas, algumas em partes, sem perna, sem braço, isso aqueles que estavam mais próximos do foco da explosão outros que estavam mais longe foram queimados, alguns o corpo inteiro, outro tiveram problemas pulmonar por causa da fumaça, isto alem da queimadura, mas todos estavam vivos, outro problema, ainda maior com aqueles que não entraram em coma por conta do trauma da queimadura e que não acordaram gritando de dor e ainda mais com problemas mentais pela falta de oxigênio no cérebro, tudo foi um problema naquele acidente, e muitos que deveriam ter morrido continuaram vivos, nunca pensei como um medico que pensaria que a melhor situação para todos era a morte, aquilo me deixou obcecado, comecei a pesquisar o mundo e em todos os hospitais em que eu possuía amigos ninguém estava morrendo, foi quando a mídia encontrou o caso, pois eles adoravam divulgar casos de morte e um acidente como esse seria perfeito para divulgar casos de morte, mais isso não ocorreu, foi quando se inverteu a historia e começou o caos no mundo.

A mídia passou a divulgar que Deus havia abençoado o mundo, onde ninguém mais morreria, mais eles não estavam divulgando a problemática do sofrimento que isso poderia causar a todos, começaram a divulgar o fato de estarem vivos como maravilhoso, as pessoas começaram a testar se aquilo era real. Algo que não foi muito agradável.

Muitos casos de suicidas começaram a aparecer, só que isso a mídia não divulgava, pessoas que tentavam cortar o pulso em lugares que ninguém achava que depois de uma semana os encontraram sem sangue, mal conseguindo respirar e vivo, este é o caso mais simples que encontramos de suicidas, pois ao enfrentar a morte e conseguir sair com vida delas tinha conseqüências que eram piores do que viver para sempre, casos de pessoas que não queriam se suicidar, mais resolveram viver a vida o em uma loucura eterna e depois de alguns anos estavam com conseqüências que demorariam trinta anos para alcançar. Doenças graves então acredito melhor nem começar a comentar, todas as doenças existentes apareciam, as pessoas começaram a achar que como não precisavam mais se preocupara em morrer também não precisavam se preocupar com a saúde do corpo, algo muito errado já que para viver por mais tempo exigia ainda mais que o corpo fosse bem cuidado. Foi quando achei uma solução para o meu pai, desligá-lo do corpo, talvez desse certo, assim tinha que perguntar para ele o que ele desejava e por isso o acordei, lhe contei de tudo o que estava acontecendo e lhe expliquei toda a situação e lhe contei de como mamãe estava e eles junto decidiram que o melhor a fazer era ficar em coma os dois até que eu arrumasse um jeito para que pudessem morrer juntos.