terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Conto 11 - Parte 5

Ele me olhou e disse:

- Você não nem sabe se será um sucesso, o que acha vale o risco.

Pedi para que ele esperasse alguns minutos, fui ao quarto dos fundos onde dormia, peguei me primeiro livro, aquele que eu havia escrito a muito tempo atrás, e aquele que estava segundo eu o mais fraco, pois era o que havia menos técnica e experiência como escritor e lhe entreguei, ele sorriu e disse:

- Como garantia publicarei seu livro com um pseudônimo, assim ninguém saberá que é você e poderá me esperar aqui sem problemas algum até que seu livro se torne famoso e você possa se apresentar para as editoras como o escritor real.

Ele sorriu e saiu.

Naquele lugar eu não tinha muitas noticias do mundo, mas via muitas pessoas, encontrava muita gente durante alguns dias, alguns dias não havia ninguém, mas comecei a perceber que muitas das pessoas que passavam vinha carregando o mesmo livro, não conseguia ver qual era, só conseguia ver que era a mesma capa.

Até que um dia uma moça sentou no balcão e colocou o livro sobre a mesa, ali pude ler o nome do livro “Segredos da Lua”, era o nome do meu livro, o nome do livro que eu havia entregado aquele homem, o livro que contava a historia de um homem que havia se apaixonado pela lua, tinha que perguntar, quando fui entregar seu pedido perguntei:

- Moça que livro é esse que está lendo, tenho visto muito ele por aqui.

Ela sorriu com um pouco de dó, me olhando com um caipira afastado do mundo e respondeu:

- Esse é o livro mais vendido do ano, ele se tornou um dos livros mais procurados pelo país a ponto de não possuir mais livros para venda em lugar algum.

Agradeci e não pude acreditar, aquele era o meu livro, era o meu livro, aquele que havia sido levado por aquele homem, que estranhamente não me lembro o nome, mas foi eu olhar para a porta que lá estava ele parado com aquele sorriso macabro, como se soubesse que havia pensado nele, como se soubesse que eu havia descoberto que meu livro era um sucesso.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Conto 11 - Parte 4

Seu olhar me dava medo, mas se ali eu poderia ter uma chance de me tornar aquilo que eu sempre desejei não ia jogar tudo ao vento, ia aproveitar ao maximo aquela chance que eu estava tendo, então lhe falei:

- Diga qual o preço, o que você ganha com a ajuda que me dará.

Novamente ele sorriu, mas desta vez disse:

- Não gosto de falar em preços, custos e trocas, nesse momento eu estou aqui só para ajudá-lo, eu suponho que você já tenha um livro escrito.

Ele estava desviando o assunto, eu não poderia perder a chance, mas também não poderia entrar em um negocio no qual eu poderia acabar prior do que eu já me encontrava, olhei para ele e respondi:

- Sim, eu possuo um livro escrito, mas antes de entrarmos neste mérito eu gostaria de saber o que você ganha me ajudando.

Ele novamente com aquele sorriso antes de qualquer palavra falou:

- Não gosto de tratar de valores, acredito que pessoas ajudam umas as outras e preocupações com trocas podem acabar com a veia artística, primeiro escute minha proposta depois diga se aceita ou não, eu não irei te prejudicar pode confiar.

Não sabia o que responder, então fiquei escutando enquanto ele dizia:

- Será o seguinte, você me dará um de seus livros sem compromisso algum, eu publicarei, se houver algum retorno eu voltarei aqui e nós fecharemos um contrato, nesse contrato você só concordará que depois de alguns anos eu poderei voltar para lhe cobrar um favor, mais nada.

Aquilo era muito estranho eu tinha que perguntar:

- Mais que espécie de favor você irá me cobrar?

Como das outras vezes sorriu, e ignorando o que eu disse perguntou:

- Aceitas ou não minha proposta.

Não sabia o que responder, aquela poderia ser minha única chance.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Conto 11 - Parte 3

Achei aquilo muito estranho, como eu poderia saber que eu era escritor, tudo bem que já estava ali naquele lugar a algum tempo e que nas horas livres eu ficava escrevendo, mas isso era feito nos fundos, o único que sabia que eu escrevia alguma coisa era o dono daquele lugar que passava o tempo todo na cozinha e dificilmente falava com as pessoas, fiz um olhar de espanto com aquelas palavras, então ele continuou a dizer:

- Não se assuste, eu comentei isso por que você tem cara de escritor e não de garçom e como venho muito a esse lugar eu andei reparando em você, me parece muito promissor.

Sorri um pouco atordoado com aquela abordagem, não sabia o que responder, aquilo foi muito estranho ao mesmo tempo que parecia uma cantada barata, então eu respondi:

- Depende do que você pensa que seja um escrito, pois não tenho nenhum livro publicado, mas gosto de rabiscar alguns papeis raramente sim.

Ele sorriu assustadoramente e me olhou, um olhar profundo que parecia tocar o fundo de minha alma como se um frio abatesse aquilo que sou e falou:

- Eu sou um caça talentos, ajudo as pessoas a despertar seus desejos mais íntimos, sou praticamente como um gênio da lâmpada, acabo realizando o desejos de todos aqueles que possuem a coragem de dar um passo a frente, assim tento um tato especial quando vejo alguém que possui um talento que não demonstra para todos e pude sentir isso em você.

Um caça talentos em um lugar daqueles, uma parada para vários lugares, eu pode vir de um lugar para o outro e por isso está sempre ali, mas eu estar ali e ter ficado tanto tempo aqui era algo estranho, não parava em um emprego por mais de um mês, sempre me irritava e seguia em frente, pegava a estrada, mudava de cidade, estado, cheguei até a mudar de país algumas vezes, mas ali eu já estava a quase um ano, a conhecidencia era muito grande resolvi sentar e escutar o que ele tinha para me dizer, mas antes de escutar lhe disse:

- Você disse que ajuda as pessoas, mas pelo seu carro ali fora deve ter um preço para ter a sua ajuda não estou certo?

Ele sorriu.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Conto 11 - Parte 2

Tava algum tempo trabalhando, sobrevivendo, mas sempre infeliz aquilo não era o que eu queria para minha vida e eu tinha que começar a tentar mudar, pois uma coisa eu sabia nesta vida, nada viria a minha porta sozinho, eu tinha que encontrar um caminho.

O problema era que quanto mais eu pensava menos solução eu encontrava, passei a questionar até mesmo minhas convicções, será que eu estava sendo o errado em tudo isto? Já que se eu aceitasse ser igual a todos eu poderia vender diversos livros, era só escrever o que todos querem ler, tem tantos escritores fazendo isto, eu poderia ser mais um na multidão e ganhar meu dinheiro.

Só que eu sabia em meu intimo que fazer livros baratos com estórias fracas não ia me deixar feliz, eu não ia gostar do que eu estaria fazendo assim como não gosto do que estou fazendo para sobreviver e minha situação não iria mudar, continuar na mesma eu fico onde estou que não é um trabalho muito recompensador mais a qualquer momento eu posso sair e arrumar outro do mesmo nível que esse se manchar meu nome de escritor com porcarias baratas que servem para vender.

O chato de pensar as coisas assim é que talvez eu nunca saísse desta minha situação de tristeza, mas é melhor ser triste com a esperança de um dia conseguir realizar os desejos do que ser triste matando a esperança e vivendo como um zumbi que anda pelo mundo para se alimentar, não se importando do que se alimentar, basta de alimentar para continuar a andar e seguir sempre em frente sem pensar, sem questionar, só agindo pelo instinto de sobrevivência, não que estivesse muito diferente disto, mas eu tinha a esperança.

Havia arrumado um trabalho de garçom em um restaurante meia boca na beira da estrada, perto de um motel mais meia boca ainda onde eu conseguia dormir, não precisava pagar aluguel algum e meus pertences andavam comigo em uma bolsa, assim onde parasse poderia ficar, o nome do motel era “Motel encruzilhada”, e o nome do bar era “Todos os caminhos”, tinham esse nome por que ficavam em uma encruzilhada que dava para diversas direções, um ponto estratégico para um motel e um bar, restaurante, pois muitas pessoas eram obrigadas a passar por aquele lugar e o que custa dar uma parada rápida para um lance e algumas horas de sono quando se esta viajando a muito tempo.

Foi lá que eu encontrei um homem, um pouco estranho, que andava em um carro lindo, vinha sempre ao bar, não sei o que fazia, só sei que dia sim dia não ele aparecia para tomar um café e comer alguns ovos cozidos, até o dia que ele me olhou e disse:

- Você é escritor?

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Conto 11 - Parte 1


Tudo o que eu sempre desejei em minha vida era ser reconhecido, conhecido, ganhar muito dinheiro fazendo aquilo que eu gosto, me livrando das obrigações do dia-a-dia, das preocupações com chefes e com datas, queria liberdade, mais não só ela, a liberdade, queria ganhar dinheiro com isso, já que vivemos em um mundo capitalista e sonhos não colocam comida na mesa eu gostaria de ter meu capital.

Claro que eu sei que como as coisas são, que todo mundo deseja tudo o que eu citei, mas a questão maior é a que minha área de trabalho fornece um tipo de liberdade que os outros não tem, eu sou um escritor e escrever me da a liberdade de ter o que desejo, mas o problema que para ter tudo isto é necessário ser famoso, para ter varias editoras desejando meus livros.

Foi ai que encontrei o problema a fama, não a desejava, nunca fui uma pessoa que desejasse fama, só quero uma vida tranqüila e por mais que pareça contraditório dizer que quero ser reconhecido e não quero a fama é no sentido de que prefiro ficar no anonimato, mas um ninguém não tem reconhecimento e muito menos pessoas desejando seus livros, tudo o que eu desejava era que admirassem meus livros e não a minha pessoa, por isso reconhecimento e não fama.

A problemática da fama não era o meu problema em relação a ser um escritor, tinha aquele que era o verdadeiro problema, eu não era um Empresário Cultural, não produzia cultura de massa, só que todas as editoras que eu conhecia desejavam esse tipo de coisa, comecei a mandar alguns livros para essas editoras, mas todos eram rejeitados, já havia escrito cerca de cinco livros com temas diferentes, mas nenhum era aceito, algo que desanimava a escrita e fazia com que minhas obras se tornassem inacabadas, já que nunca eram aceitas, tudo por que a Industria Cultural alegava que meus livros não eram para o grande publico.

Uma raiva me consumia cada vez que via isto acontecer, por que eu sabia o motivo de não ser aceito, meus livros não eram auto explicativos e muito menos de romance óbvios onde aparece o mocinho, a mocinha e nas duas primeiras paginas já se pode dizer o que irá acontecer no final, as pessoas não gostam de nada que as façam pensar.

Tudo isto era a minha ruína e eu tinha que me conformar que se desejasse seguir esta carreira tinha que me igualar, enquanto não aceitava tudo isto facilmente trabalhava em qualquer coisa que aparecesse, ganhando o suficiente para viver, ou melhor, sobreviver.