terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Conto 19 - parte 3

Voltei para tribo e fui direto fala com o pajé, enquanto era um vulto andando na mata poderia ser um medo, algo dentro de minha cabeça se colocando frente a mim, agora uma ponã negra de olhos vermelhos foge de tudo o que posso explicar.
Chegando ao pajé lhe expliquei exatamente o que tinha visto, ele olhou e me disse:

- Ponã natural costumam ser da cor do Sol com pintas negras, e seus olhos costumam ser claros como o céu, as águas, com certeza uma ponã comum não é...

Impaciente avancei com as palavras e lhe disse:

- Era um ponã, não tinha como não ser, olhei em seus olhos, vi seu rosto, seu cor pode não ser igual, mas sua aparência sem dúvidas era de uma ponã, ela me olhou como se quisesse falar comigo.

Ele me olhou como se visse algo dentro de mim assim como a ponã fizera, mais algo o parou, algo o fez se sentir mal e ele saiu sem nada disser.
Alguns dias se passaram ele apareceu e me disse:
- Caapora me disse que nenhum de seus animais entrou em contato com ninguém de nosso povo e que nenhum animal que circula por essas redondezas bate com essa descrição

Conto 19 - parte 2

Cheguei completamente amedrontado, estava tão molhado que não sabia se o suor que estava deixando meu corpo encharcado era da corrida desesperada que havia dado após aquela aparição ou se era do medo que eu estava sentindo. Estava sentindo um medo enorme de algo que eu não sabia o que era, acredito que no fundo era isso que eu estava sentindo referente aos homens sem cor, pois eu não sabia o que poderia estar por vir não sabia o que poderia acontecer e eu tinha medo que no fundo acabasse com a morte de minha tribo, e com todo esse pensamento em minha cabeça eu adormeci.
O dia clareou, e tudo parecia apenas um sonho ruim, estava sentindo um enorme peso em minhas costas, o peso de uma noite muito mal dormida estava sobre mim, olhei e todos já estavam prontos para seguir nosso caminho, estamos todos prontos para seguir nosso caminho quando vindo direto para mim estava o pajé, que se aproximou muito e disse:
- Está se sentindo perturbado, e realmente deve se sentir perturbado, uma força muito forte e não muito clara o está perseguindo, aquilo que pode parecer a solução, pode vir a ser a sua ruína, os caminhos mais simples nem sempre são os melhores, a flor mais bonita é a que tem os espinhos mais perigosos.
Aquelas palavras foram muito forte para tudo o que estava sentindo, mas a direção para qual meu olhar se direcionou naquele momento foi o pior caminho que poderia ser, ver o homem ser cor como o grande mal, vê-los como a mão da natureza oferecendo o belo fruto envenenado.
Caminhamos o dia todo até acharmos um bom lugar para nos estabelecermos algumas árvores frutíferas carregadas que seriam capazes de nós ajudar por um bom tempo, um solo limpo e fértil para cultivamos nossas verduras e próximo a um riacho que nos manteria saciados.
Meu coração estava calmo, sai com o grupo de caça para um reconhecimento da região avaliar o que tinha, o que deveríamos respeitar e o que poderíamos caçar, quando depois de muito andar me vi sozinho, sem perceber tinha me afastado de todos,  e sem notar eu estava frente a frente a uma ponã negra como a noite, como nunca havia visto antes, seu olhos vermelhos como sangue, e ela não só me olhou como penetrou a minha alma, como se me dissesse palavras, quando um mão tocou meu ombro e sai do que parecia ser um transe, e nada mais ali estava além do grupo de caça.

Conto 19

Parte 1

O ano era 1588, hoje eu sei isso naquela época isso não importava, naquele momento eu era apenas o xambé do chefe, o grande sábio que todos vinham para buscar apoio e conhecimento, e talvez hoje eu entenda tudo isso, talvez hoje eu possa ver que meu xaré estava certo e que tudo deveria ficar como estava. Mas nada disso importa mais, vamos apenas deixar as coisas escritas para que um dia todos possam saber a verdade.
Fazia um ano que tínhamos sido vistos, já havíamos sido expulsos de nossas terras por esse povo sem cor quando vieram e decidiram que tudo o que tínhamos aqui era deles, que nossas terras eram suas, que nossos costumes de nada valiam e que sua religião era muito mais importante que as nossas crenças, havíamos após a fuga nos estabelecemos no Vale, próximo ao rio hoje chamado de paraíba.
Estava muito preocupado com o que poderia acontecer com meu povo novamente o que poderíamos passar, ter que nos mudar ou até pior, fui a meu pai expor minhas preocupações e ele simplesmente me disse:
- A guerra só trará mais guerra, e com ela mais dor e sofrimento para nosso povo.
Não podia me conformar, fui até nosso xamã para que intercedesse junto a meu pai, mas novamente continuei sem ajuda, a única coisa que me disse foi:
- Seu pai é o chefe pelo motivos certos, estamos cada um colocados no papel que lhe é devido.
As duas pessoas que poderiam me dar ouvidos não fizeram, aqueles que poderiam me ajudar estavam me dando as costas, e eu podia sentir que algo ruim estava por vir.
Não ficávamos muito tempo parados no mesmo lugar deixaríamos que a natureza seguisse seu caminho e seu ciclo natural, aproveitamos do que ela poderia prover naquele momento então seguia nosso caminho em busca de outros lugares que ela poderia nos prover novamente, deixando-a se reconstruir, estávamos prontos para partir quando a luz voltasse, irritado com o que estava acontecendo sai a luz da lua para ver se deixava aquelas ideais partirem de minha cabeça.
Foi quando pela primeira vez à encontrei, um vulto negro que naquele momento não pude distinguir, parecia me seguir, parecia querer se alimentar, assim voltei o mais rápido que pude para tribo.