sábado, 12 de junho de 2010

Conto 7 - Parte 6

Depois de passar algum tempo na rua pensando no que era melhor a fazer resolvi que deveria passar mais uma noite em algum albergue publico e depois pensar melhor no que fazer.

Só que aquela noite foi uma noite nada agradável, o local que eu tinha encontrado não era ruim e as pessoas não eram tão mal educadas como aquele primeiro que eu havia encontrado, mas o meu problema não foi com o local e com as pessoas, foi com minha própria mente.

Durante o sono as imagens do acidente começaram a me assombrar, era fechar os olhos que eu começava ver o carro rodando na pista, só que o estranho daquele sonho é que o carro não rodava para frente e sim para trás como se estivesse voltando tudo.

Estava complicado dormir, por que não era só o fato de estar vendo o acidente eu estava sentindo todo o pavor de estar passando por aquele acidente e eu não queria sentir tudo aquilo de novo, tentei ficar acordado mais estava muito cansado, ainda não havia me acostumado com aquela cadeira e não é nada fácil andar empurrando uma cadeira assim o dia inteiro.

De tanto cansaço meu corpo sem que eu desejasse me fez pegar do sono de uma só vez e o pesadelo começou, e realmente estava tudo ao contrario o acidente estava voltando como se fosse para que eu visse tudo o que tinha acontecido novamente, cada parte como se em câmera lenta eu visse o que eu fiz, como fiz, mostrando os erros que cometi para acabar naquela situação, mas quando todo o acidente acabou eu achei que o sonho acabaria também, mas pelo contrario as coisas continuaram retrocedendo, comecei a ver tudo o que eu havia feito naqueles dias antes do acidente, a minha chefe querendo ter uma relação mais do que profissional comigo, eu não sabendo como reagir com tudo aquilo, o voltar para casa e tratar minha mulher mal como se ela tivesse culpa do que estava acontecendo o não voltar para casa para tentar evitar o que estava acontecendo, dormir em qualquer lugar para que os problemas na família que eu estava causando não se repetissem, as festas da minha filha que eu não compareci por estar trabalhando, as datas comemorativas com minha mulher que eu não compareci por que a chefe queria que eu ficasse no escritório até mais tarde para tentar conseguir o que estava desejando, a minha vontade de ficar com ela que quase se concretizou, por que todos os meus erros, minhas falhas como pai, marido e pessoa estavam aparecendo para mim naquele momento, já não era o suficiente eu estar naquela cadeira de rodas, desempregado e sem coragem para voltar para casa.

Era por tudo isso que eu não podia voltar para casa, eu já tinha causado tanto mal a minha família que eu não poderia ser mais mal a elas novamente, o problema de se pensar em nós mesmo por muito tempo é que quando olhamos para trás percebemos que não temos mais a chance de recuperar o que perdemos, pois todas as chances que nos foram dadas nós recusamos por estar cego para o mundo que nos rodea.

Quantas vezes deixei de jogar tudo pro alto com medo de arriscar e o que eu amava ficou em segundo plano, quantas vezes agüentei calado besteiras para não sofre certas conseqüências enquanto causava conseqüências piores para aqueles que amo, e no fim acabou como acabou, perdi tudo aquilo que lutava para manter e abandonei tudo aquilo que lutava para me manter e tudo por nada.

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